quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Fernando Pessoa

A minha vida é um barco abandonado




A minha vida é um barco abandonado


Infiel, no ermo porto, ao seu destino.


Por que não ergue ferro e segue o atino


De navegar, casado com o seu fado ?


Ah! falta quem o lance ao mar, e alado


Torne seu vulto em velas; peregrino


Frescor de afastamento, no divino


Amplexo da manhã, puro e salgado.






Morto corpo da ação sem vontade


Que o viva, vulto estéril de viver,


Boiando à tona inútil da saudade.






Os limos esverdeiam tua quilha,


O vento embala-te sem te mover,


E é para além do mar a ansiada Ilha.






Fernando Pessoa

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