terça-feira, 11 de março de 2014

Paisagem Sonora

O que o aluno poderá aprender com esta aula
  • Formular critérios e parâmetros do que possa ser música.
  • Compreender o conceito de som, silêncio e ruído - paisagem sonora.
  • Criar situações de paisagem sonora.
Duração das atividades
Duas aulas de 50 minutos (1h40min)
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
  • Conhecimento musical não formal.  
  • Noções sobre os ‘gostos’ musicais dos alunos e o que consideram música ou não.  
Estratégias e recursos da aula
          Esta série de aulas é destinada a discutir por meio de experiências práticas a serem desenvolvidas em sala de aula, os conceitos de música identificados nos sensos comuns cotidianos. Sugerimos para aprofundamento da noção de 'sensos comuns' a leitura do artigo do professor Luís Carlos Lopes (vide link 1 em Recursos Complementares).         
         Ao mapear ‘preconceitos’ sonoros, buscamos transpor a visão de música limitada à noção de ‘gosto estético’ para uma perspectiva crítica do fenômeno sonoro, que é anterior às categorizações e aos gêneros musicais historicamente estabelecidos. É essencial que antes da aula o professor possa aprofundar a reflexão sobre os seus próprios conceitos do que considera música ou não. Neste processo pessoal recomendamos experimentar outros olhares sobre padrões históricos e de sensos comuns para absorver e compreender também as manifestações musicais difundidas nas mais diversas mídias presentes no cotidiano de seus alunos.         
         Como base teórica de apoio, sugerimos a leitura do texto do livro “O ouvido pensante” de R.Murray Schafer (vide link 2 em Recursos Complementares), especialmente as páginas 25 a 36 e 119 a 124. Este material constitui uma rica fonte de insights para desdobramentos posteriores em sala de aula.  

Atividade 1

         Proponha aos alunos o seguinte desafio: “o silêncio não existe, tente encontrá-lo”. Escreva a frase no quadro. É possível que os alunos estranhem a afirmativa ou questionem de imediato. Peça que mostrem onde está o silêncio, que discutam como se obtém o silêncio e que proponham maneiras de fazer isso. O silêncio é uma coisa? É um lugar? Tem forma? Após levantar estas instigações e experimentar algumas sugestões dos alunos, realize o exercício de ‘caça-silêncio’, a seguir:
a)    Peça aos alunos que evitem produzir qualquer tipo de som e proponha a eles que simplesmente percebam tudo que puderem ouvir durante 1 ou 2 minutos.
b)    Esgotado o tempo, cada aluno deve anotar em uma folha de papel os sons ouvidos.
c)    Liste no quadro os sons relatados pelos alunos. Podem-se propor outras ‘rodadas’ do exercício buscando eliminar o máximo de sons internos da sala, ou seja, sons que possam ser controlados pelo grupo. Por exemplo, se ouvem o ventilador, o que acontece se desligarmos? E se fecharmos a porta? Desligarmos o ar condicionado? Pararmos de bater os pés? Respirarmos suavemente? Ao interromper algum som na sala, podem-se ouvir novos sons antes imperceptíveis no ambiente externo? Repita a experiência. Os sons ouvidos são música? Discuta relacionando com os conceitos de organização de sons e intencionalidade musical levantados na aula anterior. Exiba o vídeo da peça 4’33” do compositor John Cage.
         A partitura de 4'33" contém três movimentos. Após a entrada no palco e os aplausos, o músico deve colocar-se em posição de execução e permanecer assim durante toda a duração da obra (quatro minutos e trinta e três segundos). Nesta peça o executante senta-se diante do piano e toca notas 'silenciosas'. O objetivo é problematizar a noção de música, a expectativa do som do instrumento que abre o canal tradicional da audição para ouvir os sons do mundo. Discuta com o grupo. Isso é música? Qual foi a intenção do compositor?
         Abaixo sugerimos 3 versões da mesma peça:  

d)    Para exemplificar o conceito de ruído, proponha agora que os alunos interfiram com seus próprios sons na paisagem sonora ouvida. Por exemplo, peça que todos falem ao mesmo tempo e pergunte se conseguem compreender o significado do que dizem. Pergunte quantos sons suaves e naturais deixamos de ouvir no momento em que ouvimos sons fortes e tecnológicos. Proponha uma reflexão sobre o momento da aula sugerindo que os alunos interrompam com sons toda vez que o professor falar. Pergunte a eles o que acontece. A comunicação fica prejudicada? Interessa a noção de ruído como algo que atrapalha a intenção sonora de um determinado momento. Se um aluno arrasta as cadeiras enquanto alguém fala é um ruído? O som da cadeira arrastada é necessariamente ruído ou pode ser musical? Proponha à turma que levante e arraste suas cadeiras propositalmente. Isto tem algo de musical? Experimente com seus alunos outras formas de organizar os sons das cadeiras.
Dicas:
1. Este exercício pode ganhar novas etapas a partir da criação livre do professor com a sua turma de acordo com seu ambiente específico.
2. Percebe-se que mesmo que interrompamos todos os sons possíveis dentro da sala, o universo sonoro exterior não pode ser controlado. Os sons listados representam o 'silêncio' daquele lugar. Se estivéssemos em um outro local, ouviríamos o mesmo 'silêncio'? Cada local tem sua “paisagem sonora” (para aprofundamento no conceito de paisagem sonora, veja o link “O ouvido pensante” em Recursos Complementares). O silêncio é possível? Volte a afirmação inicial: "o silêncio não existe".
Curiosidade:
         José Miguel Wisnik em seu livro "O som e o sentido" (vide link 3 em Recursos Complementares) relata uma experiência realizada por John Cage: "(..) há sempre som dentro do silêncio: mesmo quando não ouvimos os barulhos do mundo, fechados numa cabine à prova de som, ouvimos o barulhismo do nosso próprio corpo produtor/receptor de ruídos (refiro-me à experiência de John Cage, que se tornou a seu modo um marco na música contemporânea, e que diz que, isolados experimentalmente de todo ruído externo, escutamos no mínimo o som grave da nossa pulsação sanguínea e o agudo do nosso sistema nervoso)." (Wisnik, 2007, p.18 e 19).

Atividade 2

a)     Proponha que a turma se divida em grupos de cerca de 4 alunos. Os grupos podem ter mais integrantes se achar adequado. Sorteie uma situação de paisagem sonora proposta. Ex: praia, shopping, estádio de futebol, aeroporto, trânsito, feira livre etc. Acrescente outras ideias possíveis a partir da sua realidade.
b)     Dê tempo para que os grupos elaborem a paisagem sonora com quaisquer objetos que tenham disponíveis, voz e/ou sons corporais.

Atividade 3

a)     Apresentação das paisagens sonoras.
b)     Escolha um ‘regente’ para dirigir as diversas paisagens sonoras intencionalmente. O aluno poderá controlar os momentos em que cada grupo de paisagem sonora é ativado apontando com as mãos. Propomos o seguinte código:
- mão aberta – execução dos sons
- mão fechada – interrupção dos sons
- mãos ao alto – os sons são executados em volume alto
- mãos abaixo – os sons são executados em volume baixo
- movimentos rápidos com as mãos – andamento rápido
- movimentos lentos – andamento lento
         Obs.: A complexidade desta ‘regência’ pode variar de acordo com o grau de familiaridade que os alunos já apresentem em relação a estes parâmetros do som (duração, intensidade).
        
Dicas:
1. Escolha diferentes regentes para a mesma paisagem sonora, estimulando-os a criarem diferentes intenções musicais para a mesma paisagem sonora.
2. Como variante, proponha a sobreposição de paisagens sonoras, contanto que se estabeleça uma proposta intencional de organização do material sonoro.     
         Ao final, avalie junto com a turma os trabalhos apresentados.    
Recursos Complementares
Link 1 - Artigo: A espiral da opinião comum: a televisão aberta do Brasil, argumentos e culturas - Luís Carlos Lopes
Link 2 - O ouvido pensante - R.Murray Schafer
Link 3 - O som e o sentido - José Miguel Wisnik

Avaliação
          Ao final da atividade os alunos devem ser capazes de flexibilizar seu conceito de música. Avalie:         
         1. Como foi a participação dos alunos na aula? Envolveram-se com as propostas? Contribuíram para o enriquecimento das atividades?         
         2. Apreenderam na prática os conceitos abordados: som, silêncio, ruído e paisagem sonora? Peça que expliquem uns aos outros como se agora eles fossem os ‘professores’.       
         3. As composições de paisagem sonora eram coerentes com a proposta? Organizaram os sons com intencionalidade?         
         4. Os alunos conseguiram discutir em conjunto a composição e tomar decisões em grupo?         
         5. Ensaiaram e apresentaram com desenvoltura as composições? 
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
CONTEÚDO:  Paisagem sonora 
 
TEMPO ESTIMADO: Cada aula no noturno tem 35min, precisaremos de no mínimo quatro aulas.
 
RECURSOS:
Instrumentos musicais, garrafas pets, latinhas de refrigerante, lápis, borracha, folha de papel, CD, DVD,data show, vídeos slides, câmera fotográfica, impressora, computador, e pen drive.
 
 
COMPETÊNCIAS: 
 
O trabalho com a Música deve se organizar de forma a que os alunos desenvolvam as seguintes capacidades:
  • Ouvir, perceber e discriminar eventos sonoros diversos, fontes sonoras e produções musicais;
  • Brincar com a música, imitar, inventar e reproduzir canções musicais.
 
HABILIDADES:
 
O fazer musical:
  • Exploração, expressão e produção do silêncio e de sons com a voz, o entorno e materiais sonoros diversos.
  • Interpretação de música e canções diversas.
  • Participação em brincadeiras, jogos cantados e rítmicos.
 
DESENVOLVIMENTO: 
 
O conceito de “Paisagem sonora” tornou-se conhecido para os educadores em música a partir do trabalho produzido pelo professor canadense Murray Schaffer. Em seus estudos, ele trabalha com a percepção de sons de diversos ambientes e utiliza estratégias para sensibilizar o ouvido de seus alunos, como fazer um passeio por um bosque de olhos vendados. 

Para que os alunos sejam estimulados a perceber e identificar sons nos diversos ambientes em que vivem e de entender melhor o conceito de paisagem sonora, a primeira atividade proposta é um passeio pela escola. Nesse passeio, eles registram em gravadores os sons do pátio, da diretoria, da rua, da sala de aula, da cantina, da aula de Educação Física, do recreio, da sala dos professores, da entrada, da saída, enfim, os sons que compõem a paisagem sonora da escola. 


De volta à classe, todos ouvem as fitas, tentando descobrir a localização de cada som e suas principais características - se são altos ou baixos (volume), graves ou agudos, longos ou curtos (duração). Para ampliar o foco da discussão, pode-se conversar com os alunos e pedir-lhes que descubram outras paisagens sonoras diferentes da escola: a rua em diferentes horários, a academia, a casa, o shopping, um ginásio de esportes, a igreja, algum ambiente comercial, etc.


Na aula seguinte, o professor propõe uma nova audição do material recolhido para reorganizá-lo, estimulando os alunos a perceberem pelos sons os locais de onde foram gravados. Depois, pode-se construir um roteiro como se fosse um percurso pela escola e produzir com o grupo uma nova gravação, seguindo o roteiro. Essa gravação deve corresponder a um passeio sonoro pela escola.
Esse trabalho pode ser realizado em grupos, com cada um cuidando de uma parte do passeio. 
Para finalizar a atividade, toda a classe ouve o “Passeio sonoro pela escola”, avalia os sons que descobriram nesse percurso e como esse trabalho interferiu na percepção de outros sons fora da escola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário